quarta-feira, 16 de setembro de 2009

(Ásia 2004 – 2 de 3) Viet News

Dear Fri Ends,
estou no momento sofrendo bastante no Viet Nam, primeiramente em Ho Chi Minh City (Sai Gon) e agora em Ha Noi, pois os deslocamentos e a logística aqui são bastante complicados; e já vi que no Laos será a mesma coisa. Esta galera adora selos e carimbos, e só nesta viagem já preenchi umas 8 folhas do passaporte, o que praticamente o completou. Vejo a pobreza deste País, e também do Cambodia, com seus pântanos e charcos e palafitas e população composta por milhares de extremamente mutilados e desdentados, e fico imaginando o que é que os americanos vieram fazer aqui... Talvez azeitar sua máquina de guerra? Treinar tiro ao alvo com alvos móveis gratuitos? Mas os cambodianos são doces e sorriem o tempo todo, mesmo que você não dê dinheiro.

O que mais me impressiona é, sem dúvida, o inacreditável volume de motos, lambretas, vespas e scooters no Viet Nam, muito além de nossa capacidade de imaginação. Muitas vezes fico parado só olhando o fluxo, como um autêntico Jeca Tatu na cidade grande. Não existe sinal de transito, e as ruas têm duas pistas para motos e uma para veículos – estes sim, têm sinal. É um fluxo permanente, constante, ininterrupto e interminável, parece um rio caudaloso, um formigueiro on the move. Ou melhor, vários rios que se cruzam, cada partícula com sua vontade independente, atravessar uma rua é uma aventura apavorante pois o fluxo massivo de motos não pára – o que você faz é simplesmente se meter no meio delas, e vai avançando sem fazer nenhum movimento inesperado, olhando para os motoristas que se aproximam, e fica literalmente CERCADO pelas motos que te contornam e seguem. É claro que jamais me aventuro a fazê-lo sem ser ao lado de um vietnamita. Ninguém usa capacete, e nem precisa, a velocidade média deve ser uns 30 km/h, e o Governo não se mete na individualidade das pessoas forçando-as a usar o capacete ou cinto de seguranca; cada um é maduro o suficiente para decidir o que deve ou não usar. Não vi nenhum acidente, e o que isto traz de mobilidade às pessoas é incrível: você chega, larga sua moto em cima da calçada e sai andando. Velhas, jovens, motos com famílias inteiras, é comum ver pai, mãe e dois filhos sobre a scooter – já vi até cinco (!) em cima de uma moto.

Estou convencido que o Brasil segue um modelo errado ao insistir tanto em ser um sub-Estados Unidos – uma subserviência típica de terceiro mundista. O Modelo correto é o asiático, muita coisa barata para muita gente pobre, celulares baratos com enorme volume de ligações, motos baratas, câmeras digitais baratas – e nós macaquitos tentando ter Audis e TVs com tela de plasma. Com isto o que conseguimos é criar uma permanente frustração na população, com as conseqüências desastrosas que conhecemos. Aqui, apesar da pobreza, existe muita seguranca, as ruas à noite são cheias de gente (e de motos, e de celulares, e de câmeras digitais), todos saem para se divertir, para curtir a noite, para viver o outdoor. As pessoas com quem converso trabalham todos os dias da semana, todas as semanas do mês, todos os meses do ano - ou seja, trabalham 365 dias por ano, a vida deles é trabalho. É claro que as noites têm que ser muito intensas e muito vivas – com toda a ingenuidade e pureza que eles parecem transmitir.

Além do intensivo e emocionante contato com a população fiz um ou outro programa de turista – até andei de canoinha usando chapéu cônico. Sigo amanhã para a famosa Halong Bay, em outro destes programas muito turísticos. Estão tentando colonizar / ocidentalizar estas terras tão exóticas, e neste momento tem um Papai Noel ao meu lado - acho que vou dar uma porrada nele. (Se bem que aqui tem um hábito engraçado e bonitinho de vestir as crianças de Papai Noel).

Graças ao crachá do Citi estou hospedado em um poderoso Meliá de US$ 200 pagando corporate rate de US$ 79. É um quarto tão luxuoso que fico até com vergonha do povo nas ruas...

Ha Noi tem muitos lagos belos, enormes e tranqüilos, e tempos e pagodas, mas depois de Bangkok e Angkor, vai ser difícil encontrar coisa à altura...

Um ótimo Natal, acho que o meu vai ser meio crap. Saudações asiáticas,
Viet Mar Cio

(24/dez/2004)

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