quinta-feira, 17 de setembro de 2009

(China 2003 – 2 de 3) Negócios - ou férias - da China

A SARS fez com que todos os Internet Cafes de Beijing fossem fechados, e portanto as condições de internet por aqui não estão lá estas coisas...

A China é sem dúvida um dos lugares mais fascinantes do planeta. Tudo aqui é feito com extremo cuidado, carinho, apuro, delicadeza, respeito. Tudo busca a perfeição e a simetria. Fiz passeios maravilhosos e emocionantes; por outro lado a comunicação (ou falta de) muitas vezes gera algum desespero. Mas por incrível que pareça, a língua não está sendo o maior problema, mas sim a comida. Logo vi que a questão da lingua não teria solução – NINGUÉM aqui fala inglês, nem mesmo em agência de venda de passagens aéreas! Assim, ignorei o fato e comecei a freqüentar restaurantes e a andar de metrô, ônibus e barco, aluguei bicicleta, e me afundei na vida de Beijing.

As pessoas se impressionam comigo. Muita gente pede para tirar fotos a meu lado – uns 10 por dia, sem exagero. Os Chineses têm uma curiosidade quase infantil. Outro dia houve um quase-tumulto na cerimônia de descerramento da bandeira nacional na colossal Tian An Men, a Praça da Paz Celestial: uma multidão se formou à minha volta, esqueceram a cerimônia, e se aproximavam a cada coisa que eu fazia, como olhar o Lonely Planet ou escrever alguma coisa (toda vez que eu escrevo alguns se aproximam, caligrafia aqui é uma arte). Felizmente fui salvo por duas chinesas – em geral são elas que me salvam destas situações, as mulheres são mais cultas, ou mais ligadas, ou mais protetoras.

Os passeios clássicos são realmente obrigatórios – trekking na Grande Muralha, o deslumbrante Summer Palace, o Lama Temple com uma sucessão de templos e estátuas de Buda e divindades hindus, cada qual mais colorido e bonito do que o anterior, e do qual nenhum budista jamais quereria sair. No zoológico um panda veio comer um bamboo inteiro a 20 cm de distância de mim!

Mas o melhor de tudo foi passear muito de bicicleta pela cidade, às vezes com pétalas amarelas caindo sobre a cabeca... (Fiquei tão emocionado por estar andando de bicicleta na China sob árvores amarelas que comecei a chorar; aí caiu uma pétala amarela dentro do meu olho!) Ou conversar com velhos, crianças e com todo mundo que se aproxima e tenta estabelecer alguma espécie de contato. Eu carrego um papel com “Brasil” escrito em pictogrifos, e quando mostro para as pessoas é um sucesso:
- “Ooooooooh!... Baaxii, Baaxii! Futbol, Onaldo!”
Não consigo falar “Baaxii” direito, eles nunca me entendem. Mas é sempre tudo festa.

Por outro lado a comida está ACABANDO comigo. Tudo com cara e gosto estranhíssimos, muitas vezes não sei o que estou comendo, e talvez seja realmente melhor não sabê-lo. Até no restaurante do Aeroporto – onde pensei que pedir comida fosse ser fácil – tive dificuldades: pedi uma sopa de peixe (entre todos, o prato do cardápio que me pareceu mais assimilável) e recebi um balde cheio de cabeças de peixe boiando e me olhando! Já as chinesas são umas graças, respeitosas, espontâneas, naturais – e muito curiosas...

Após uma semana em Beijing, estou agora no meio da China, em Huang Shan, a “Montanha Perfeita”, onde passei o dia fazendo um trekking belíssimo – vale a pena fuçar o lugar na internet. Não tenho a menor idéia de como vou sair daqui – cheguei ontem de avião, em um aeroporto em Tunxi, onde NINGUÉM fala inglês, e contratei um táxi através de sinais e mostrando no Lonely Planet que queria ir para um lugar a 75 km de distância... imagine a negociação. E vim pelo “countryside” chinês vendo a vida dos campesinos, alguns animais enormes e desconhecidos no meio da pista, as vilas tão diferentes com telhados todos iguais. No hotel onde estou - o melhor do lugar - as DUAS pessoas que falam inglês têm fluência de primeira semana de cursinho. É tudo muito emocionante e bonito – mas o que é mais forte todo o tempo são as completas diferenças, mesmo na forma de pensar, o que dificulta tudo, ao mesmo tempo que abre um pouco esta nossa cabecinha tããão limitada...

Sou muito bom para resolver a logística de viagens, descobrir como chegar aos lugares e também lugares diferentes – eu era o ÚNICO ocidental no Metrô e nos ônibus, fica todo mundo me olhando (fizeram um “oooohhh” mudo arregalando os olhos e esticando os pescoços quando no Metrô me levandei para dar lugar a uma senhora). Mas faz falta a companheira para conversar com os lojistas, provar as comidas, ver os tecidos, roupas e bugigangas, me dar vontade de ir a bons restaurantes. Ou seja, faz falta o lado poético da viagem.

Até aqui são 9 filmes de 36 fotos em uma semana. E, bem, eu PERDI minha máquina fotográfica... (e logo no Templo da Paz Celestial!). Está um calor infernal, e o tempo está um pouco nublado, mas tudo o que quero é que as fotos saiam, pois darão uma boa geral do que está sendo esta viagem tão enriquecedora. E o diário de viagem também está ótimo.

Zaijian!

(Joffily, obrigado pela sugestão para o nome desta mensagem!)

(17/jul/2003)

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