quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Infinitamente aborrecido

Eu estava infinitamente aborrecido.

Onipotência, onisciência, onipresença e eternidade são o tédio absoluto. Nada surpreende, nada acontece, nada é diferente. Só existe o tempo, tempo infinito para se ser tudo o que já se é.

Como distração, optei pela inconsciência. Pela surpresa. Subdividí-me em uma infinitude de partículas inconscientes, ou quase: com a consciência somente de si próprias. Que pudessem ser e fossem surpreendidas.

Assim, passei a ter uma Etenidade para me distrair, para surpreender-me sem que eu o saiba. Uma infinitude de inconsciências que não sabem o que são, que não sabem o que sou, que não sabem o que somos.

O desafio reside nesta descoberta. Somente quando cada partícula individual compreender que é parte do todo; que cada um de seus gestos afeta a mim, ou seja, a ela mesma; que o Organismo não é o indivíduo, mas o todo. Quando cada célula tiver consciência de seu papel, e o cumprir com dedicação, afinco, prazer. A distração estará então completada.

A única forma de haver absoluta Justiça é se cada consciência individual receber de volta exatamente tudo aquilo que faz; se sobre ela recair tudo aquilo que pratica.

Quando alguém é egoista, quando faz mal aos demais, está agindo como uma mão que faça mal à outra mão, achando que tudo está bem porque ela própria não está sentindo dor; ingenuamente ignorando que o Organismo a está sentindo.

Não posso ter menos consciência de você do que você tem de mim. Seria injusto. Porquê um nasceu uma coisa, e outro outra? Porque um seria maior e outro menor? Um mais e outro menos? Tudo é tudo, apenas em distintos instantes de consciência. Você sou eu, eu sou você. Nós somos eles, eles são nós. Sua consciência é a minha, minha consciência é a sua. A consciência do todo. Quando tudo se aclarar, eu, você, e tudo aquilo que o individual não alcança como sendo parte dele mesmo, teremos a mesma consciência absoluta; estareiemos de volta à onisciência. Você não é menos do que eu, eu não sou mais do que você. Soumos a mesma coisa.

A única diferença é que, no momento, você não sabe. E nem eu.

Faça-nos um favor, a mim, a você, ao todo. Melhore minha nossa distração. Melhore tudo que te cerca, tanto quanto esteja a seu alcance. Melhore o Organismo. Lembre-se que você já esteve e voltará a estar do outro lado. De TODOS os outros lados; afinal, há uma eternidade para isto.

Não adianta uma consciência individual, uma partícula, uma molécula, evoluir sozinha, se iluminar sozinha. Ou existe a integração do todo, ou então é incompleto. Enquanto houver divisão, não há justiça. Enquanto houver divisão, há inconsciência. Enquanto houver divisão, há etapa superior a cumprir. A integrar. Enquanto houver divisão, sou eu nos iludindo. Tentando não saber. Tentando me afastar do tédio onipresente, onisciente, onipotente, eterno.

Tentando me afastar do tédio infinito.

(set/2009)

Um comentário:

  1. Disclaimer: os termos "estareiemos", "soumos" e "minha nossa" forma utilizados oniscientemente.

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